quarta-feira, 7 de agosto de 2013

"À Espera"




    Tinha certeza de que era um sábado à noite. Tudo estava calmo, eu e Priscila havíamos acabado de sair do cinema. Levei-a até a rodoviária e esperei até ela pegar o ônibus. Nada demais.
    Ela tinha uma entrevista com um jornal de uma grande cidade, seria o ápice jamais sonhado de sua carreira profissional, e eu, como bom marido, nada mais podia fazer que apoiá-la. Triste e ao mesmo tempo feliz, nos despedimos, querendo ou não, ela ficaria duas semanas fora, o que seria um tormento para mim... A amo demais... Nada havia nos separado desde então.
    No dia seguinte, o meu celular tocou, era ela, dizendo que foi efetivada depois de três dias de entrevistas e treinamentos. Não pude ficar triste por isso, mas não fiquei feliz, queria que nossas vidas continuassem a mesma, mesmo com o pouco que tínhamos.
    Mas voltaríamos a nos ver. Ela pegou o ônibus de volta para passar o fim de semana, e claro, fui buscá-la na rodoviária. Foi quando, embriagado (era a única coisa que não me fazia pensar tanto nela), bati o carro contra uma caminhonete em alta velocidade. É só o que lembro até então.

    Acordei, não sabia ao certo que dia era, sei que acordei no nosso quarto. Sentia que tinha algo a fazer, mas não sabia o quê.
    Foi então que, ao checar o celular, havia uma mensagem de voz de Priscila, que dizia: me busque na estação às 9h30, estou com muitas saudades!
    Olhei para o relógio, eram ainda 7h da manhã.
    “Não aguento, preciso vê-la...”, pensava comigo mesmo.
    Tentei fazer todos os meus afazeres diurnos, tomar café, ligar o noticiário checando o trânsito, mas não conseguia me concentrar, algo parecia estar diferente.

    Foi então que com um pouco de ansiedade, o relógio marcou 9h, era hora de sair... Apressado e atrasado corri ao encontro de minha esposa. Cheguei na estação rodoviária às   9h15, “Ótimo! Estou adiantado”.
    Saí do carro e sentei em um dos bancos de espera.
    As pessoas não pareciam mais as mesmas, pareciam dispersas em um modo alternativo, não sei, talvez possa ser a ressaca de ontem, quem sabe... Ônibus vinham e iam, mas nada de Priscila.
    Eram 9h45, e nada... “Pode ter se atrasado, acontece sempre...”, pensei comigo.
    Tinha um relógio de bolso, herdado de meu pai, um grande homem por assim dizer, meu celular servia também, mas achava que olhar as horas nesse relógio era... digamos mais “sofisticado”, o que não era, ri comigo mesmo ao pensar nisso...
    10h15 e nada do ônibus de Priscila aparecer. Peguei meu celular e liguei para ela, mas não deixava de checar meu relógio. “Rede fora de serviço.”, dizia o celular. Estranho, posso dizer, ou o ônibus tinha uma câmara de pressurização muito potente, ou... odeio pensar nisso: algo pior havia acontecido. Sempre foram comuns acidentes de ônibus acontecerem nessas estradas. Caminhoneiros movidos a estimulantes, uma hora dormem...
    Mas não, tinha que pensar positivamente, não podia ter acontecido. Eram apenas duas horas de viagem de lá até aqui... vou esperar.
    Entrei na rodoviária e pedi um café preto, o mais forte que tinha, expresso. Tomei num gole só, e logo, pedi outro. Voltei então para o banco...

    Nada de Priscila, eram agora 11h, e novamente tentei pelo celular, nada.
    O que me ocorreu era que ela já poderia estar em casa, mas também não, ela iria me ligar se estivesse lá. A cada minuto destravava o teclado do meu celular para checar se havia alguma ligação, rodoviárias normalmente são bem barulhentas...

     Mas nada.

     11h30 e não podia mais esperar. Entrei no carro e fui para casa.
     Ao contrário do que o noticiário dizia, dessa vez peguei um “trânsito do cão”. Ao fim cheguei, 12h00 praticamente, sempre me acostumei a arredondar as horas. Chegando ao terceiro andar, em frente a porta do meu apartamento, peguei minhas chaves, ao tentar abrir a porta, ela simplesmente não virava... “Droga! Que merda, essa chave não abre!”, pestanejei.

     Estava preso fora do meu próprio apartamento.
     Prestando atenção, podia ouvir o tilintar de pratos e movimentos dentro dele, um cantarolar alegre, uma música lenta. Havia alguém lá dentro.
    Novamente, tentei o celular. Não funcionou.
    Desci rapidamente pelo elevador e fui até o porteiro, que mal sentiu minha presença. Nem ao menos quando o chamava, “Sr. Pedro, minha chave não funciona, poderia o favor de...”, mas ele nem se virou, nem ao menos olhou para mim.
    Estranhamente voltei a mim. Levantei as duas mãos e realmente havia algo estranho, eu não parecia como antes, minha mãos estavam levemente transparentes, prestei atenção ao redor, e havia uma névoa levemente distorcida. Até que uma senhora abriu a porta do prédio e me disse:
    – Meu jovem, sinto sua confusão, você se perdeu...
    Me aproximei dessa senhora e perguntei como.
    – Aquilo não foi um sonho, aquele acidente... aconteceu.

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