sexta-feira, 26 de julho de 2013

"Na Praça"

Esse texto segue a mesma temática que um conto anterior intitulado "No Ônibus".


    Um jovem escritor, magro, cabelos quase longos e barba mau aparada chega em uma praça da cidade, retira sua mochila das costas, a abre e retira um pano ilustrado com dragões e castelos. Volta para sua mochila e mais a fundo, retira um pacote plastificado.
    Pessoas começaram a observar aquela estranha figura, mas não se aproximavam, provavelmente só se perguntavam o por que disso.
    Então, ao abrir o pacote plástico, alguns livros se revelaram. Cuidadosamente arruma seus livros espalhando-os esteticamente no pano. Sentou-se no banco da praça, observava alegremente as pessoas ao longe tentarem ver que livros estava expondo.
    Meia hora se passou, e seu brilho no olhar se ofuscava aos poucos. Foi então que pegou outro livro da mochila, um de bolso para leituras rápidas.
    Ninguém se aproximava. Apenas os que tinham que atravessar próximos ao local que conseguiam ver um pouco do que se tratava o livro.

    O olhar dele voltava a brilhar, mas em vão...

    Longas horas se passaram, e ninguém sequer parou para ver o conteúdo do livro.
    Mas nem tudo se perdera. Uma criança que andava de bicicleta pela praça correu acidentalmente em direção ao rapaz. Freou bruscamente, pediu desculpas a ele, largou sua bicicleta no chão e ajoelhou-se ao pano para ver os livros.
    – Como chama o livro, moço? – perguntou o menino.
    O olhar do jovem escritor começou a lacrimejar de orgulho.
    – O livro se chama... As Aventuras de Menim.
    O garoto pegou um livro, olhou para a capa onde havia um jovem empunhando uma espada contra um mago e saiu correndo com o livro nas mãos, deixando sua bicicleta lá.
    O escritor tentou impedi-lo, mas apenas ficou e observou.
    Logo, ele voltou de mãos dadas com uma jovem que só poderia ser sua mãe. Ela foi de encontro até o escritor e disse:
    – Desculpe, moço... Mas quanto custa esse livro?
    Ele olhou para o garoto que esperava ansiosamente pelo livro, que agora estava nas mãos de sua mãe.
    – São vinte reais... – disse ele.
    A mãe do garoto olhou tristemente para o livro, se agachou para o filho, sussurrou algumas palavras e então o menino apenas relutou:
    – Mas mãe...
    O jovem escritor logo percebeu pela expressão da mãe do garoto que ela não tinha essa quantia em dinheiro e prontamente disse:
    – É um presente... pode ficar... – disse pegando um livro em mãos e dando ao garoto.
    O menino saiu correndo com o livro para o alto, pulando e comemorando o presente, enquanto sua mãe recolhia a bicicleta do chão.
    – Não sei como agradecer – disse ela, voltando ao escritor.
    – Não se preocupe, eu que agradeço. – finalizou.

    Logo depois disso, o jovem escritor recolheu seus livros e partiu para outro lugar, em busca de novos leitores.

terça-feira, 9 de julho de 2013

"Trombetas Mecânicas"


   “Sou um rapaz solitário, moro no alto de uma torre. Fico horas criando estatuetas no recanto que construí ao longo dos anos... onde só desço mais frequentemente para tomar uma boa xícara de café.
   A torre, que há algum tempo era isolada numa planície perto das montanhas, sempre teve a tecnologia presente desde que foi construída. Um lugar solitário, mas para mim, é onde tinha a liberdade de realizar meus pequenos feitos.
   Mas com o avanço, e outras pessoas buscando um lugar mais calmo, isso começou a mudar.
   A cada ano, novas torres surgiam. Com elas mais pessoas dirigindo suas carruagens motorizadas munidas de trombetas mecânicas feitas para produzir sons de alerta (e não musicais como deveriam ser). Com isso, a pequena velha estrada de acesso ao meu refúgio começou a ser também o acesso às outras.
   A pequena planície, agora, cada vez mais populosa e agitada, faziam com que outras pessoas vinham visitar os novos moradores. Deixou-se os bons costumes para trás e passaram a usar frequentemente as trombetas.
   Como as torres começaram a ficar cada vez umas mais próximas das outras, o soar delas ecoavam no mais alto andar da minha, como se fossem direto para meus ouvidos.
   Trombetas que eram usadas para anunciar a vinda de seus condutores (de alguém importante, se esperava...), não eram usadas como tal, e sim, para causar balbúrdia, e se tornaram inúteis para a ocasião, porque deveriam apenas serem usadas como um aviso para outras carruagens que poderiam ser guiadas desgovernadamente.

   A torre ainda era equipada com tecnologia direta: um simples botão; um sino também mecanizado (o que seria bem diferente se usassem esse instrumento). Não fariam com que o morador da torre, confuso, corresse por longos lances de escadas, para então perceber que é para a torre ao lado que fizeram o uso dessa trombeta tão perturbadora.
   Os condutores dessas carruagens poderiam no mínimo descer de seus luxuosos meios de transporte, andarem cerca de dois metros e pressionar esse botão, que ativaria o sino direcionado para a minha torre, e não a trombeta, que ecoava para todos os lados sem objetivo claro, e sem direção... fazendo assim serem ignorados diversas vezes por mim, fazendo com que me irritasse profundamente e que eu corresse de modo inútil até a porta; inútil como vocês, que usam essa maldita trombeta!”

“Se quer falar comigo, use a droga do botão!”

sábado, 6 de julho de 2013

"Escritor sem Voz"

Não aprendi muito bem a falar. Não me comunico com qualquer um, a timidez que cresceu junto comigo não deixa...
O modo que obtive para me expressar foi escrever.
Expressar pensamentos em palavras num papel é quase como falar. Não preciso dizer tudo aquilo que penso, mas preciso escrever...
Pagar psicanálise? Pra quê? Se tudo que preciso fazer é espantar as dores reprimidas em minhas entranhas... de uma mente cheia de fragmentos de pensamentos...
Muitos têm o dom da fala e, assim, o da expressão. O que me falta é essencial, pois não sei falar, mas sei contar uma história, e assim, tenho apenas um espaço numa estante, para quando quiser me ouvir apenas abra a primeira página... minha voz estará nela.
Sou apenas o expectador dos ocorridos; o observador solitário sentado no canto vazio preenchendo minha mente com imagens, como uma câmera em um ponto estratégico fazendo anotações mentais. Não do que vivi somente... pois nada gira em torno de um único indivíduo, mas sou o centro de tudo, porque o que enxergo está ao meu redor (assim como você é também o centro do que está ao seu)...
Os outros? São coadjuvantes da minha solidão e da minha falta de uma habilidade muito importante: a voz.